sábado, setembro 27, 2003

Bloggers of the world, unite

Eu sou muito obtuso. Isso já se notava, mas agora bateu-me quando li as notícias sobre o encontro de bloggers (em português, bloguistas). Queixas houve sobre o facto de existir pouca informação e muita opinião nos blogs.
Mas, meu caros, afinal o blog é um jornal, é um site informativo, ou é um espaço de expressão de opiniões daqueles que, de outra forma, não o conseguiriam fazer publicamente (e que, com a cortina cerrada que a elite tuga da blogosfera faz em torno de si mesma, quase continuam sem conseguir) ?
Afinal, os blogs devem substituir-se à comunicação social ? É para isso que servem ?
A avaliar pelo número de jornalistas e colunistas que açambarcaram a visibilidade do fenómeno, se calhar até são. Mas, esse dignos senhores e senhoras não deviam tentar informar através daqueles meios a que já têm acesso ? Será que são censurados e não podem expressar-se livremente ?
Mas o que raio vocelências querem ? Circulação de informação ?
Daaaaaaa ?
O que os impedia, antes de aparecerem os blogs ?
Os tradicionais sites, espaços de chat e tudo o mais, não serviam ?
Eram muito complicados ?
Qual o problema de haver muita opinião na blogosfera ?
Se calhar é porque fora dela, as opiniões publicadas ou divulgadas são sempre as mesmas. E, por este caminho, até na blogosfera isso vai acontecer.
Esta gente leva-se muito a sério.

Cansaços existenciais

Sinto-me cansado. Não nasci cansado, mas quase. Liberta-se de mim uma nuvem de cansaço quase ontológico.
Ninguém me arranja uma assessoria cultural, com cama e comida pagas ?
Era só para desanuviar.
Pode ser mesmo só no Porto, para estudar os hábitos dos indígenas.
Quer dizer, se for numa capital europeia, com uma animada vida cultural, é capaz de ser melhor, em termos terapêuticos. Paris, Londres, quiçá...

Anedota

Ouvi uma anedota espectacular, que me fez chorar a rir só com duas palavras.
Vou contá-la, de memória:
Jorge Lacão !!!!!

Ah ! Ah ! Ah !
Não é o máximo ????

quinta-feira, setembro 25, 2003

Age gracefully

Uma das coisas que mais me entristece é o daquelas figuras que, tendo tido uma época de apogeu, depois não sabem envelhecer com graciosidade. Isso acontece principalmente – já para não falar da política – no campo das letras e artes. Há umas semanas, o Lloyd Cole explicava isto muito bem numas entrevistas que por cá deu. Aos 40 e 50 anos, uma pessoa não quer ouvir ou falar do mesmo que aos 20 anos, mas nem toda a gente percebe isso. Por outro lado, ninguém consegue ser eternamente jovem ou constantemente profundo.
Saber envelhecer em público é difícil, em especial para quem a imagem é (quase) tudo. Temos o método velho gaiteiro (Mick Jagger), o método auto-complacente (Sting) ou o método sempre o mesmo com outra roupagem (o actual Bowie), para não falar em exemplos ainda mais decadentes.
Isto ocorre-me sempre que sai um novo álbum do Van Morrison (mais do mesmo, mas sempre com classe) mas mais recentemente com o novo álbum do Elvis Costello (North), mais um excelente após muitos excelentes, nunca iguais, mas nunca só atrás das modas. Para mais, o homem está apaixonado e todos nós ganhamos com isso. Se isto é o que ele faz nos intervalos de um álbum “normal” (When I was Cruel), realmente o talento e a inspiração andam mal distribuídos porque ele levou a maior parte dos tipos da geração dele.

Burrices

O Vilarinho acha que os jogadores do Benfica, ou pelo menos alguns deles, são burros. Constatação do óbvio pois se não o fossem, porque teriam aceite jogar no Benfica ?

segunda-feira, setembro 22, 2003

Correcção: Então, minha, porque é que escreveste ?

Afinal quem escreveu aquilo no "Mil Folhas" foi uma senhora, a Tereza Coelho, Apesar de ser uma senhora, a observação mantem-se. É o que faz querer fazer muita coisa em pouco tempo. Depois dá nestes barretes.

domingo, setembro 21, 2003

Então, meu, para que é que escreveste ?

No suplemento Mil Folhas do Público, um dos cronistas decidiu escrever sobre o Booker Prize deste ano. Confesso que quase todos os últimos anos comprei o livro que o ganhou porque mau nunca é. Pode haver melhores, mas o que ganha nunca é um mau livro e está, por norma, acima da média. Por isso fui ler a crónica porque sempre tinha uma ou outra pista sobre os livros deste ano.
Ora o rapaz, penso que quem escreveu o texto era do sexo masculino, comçea por divar sobre as exclusões da shortlist. Pois é, o Martin Amis ficou de fora porque isto e aquilo e até é o escritor inglês de que o cronista mais gosta; depois o Graham Swift e J. M. Coetzee também não foram incluídos e são muito interessantes e tal. Pois é, este ano os finalistas são todos novos, tirando a Margaret Atwood. Pois é, o cronista em causa não leu ainda nenhum dos livros seleccionados, mas apenas e só recensões sobre os livros.
Ora bolas, então para que é que escreveu esta merda de texto. Se não leu, não leu, ok, escrevesse sobre outra coisa. Se queria escrever encomendasse um ou dois livros pela Amazon no início da semana que, pelo fim, já cá os tinha. Agora escrever um texto sobre o que não leu, queixando-se que não seleccionaram os livros que leu, é um grande cócó. E assim se ganha a vida a escrever para um jornal “de referência”.

Ah, esta esquerda canhota

Em contrapartida, na mesma edição existe uma bela crónica de Helena Matos sobre a nossa esquerda nostálgica de outros tempos e para quem a democracia é como os árbitros no futebol, só é boa quando estamos a ganhar.
Na verdade, de parte do PC a parte do PS, passando pelos abrenúncios do Bloco, as saudades do antigamente são quase tantas como entre parte do PSD e quase todo o CDS do Portas Jr. Naquele tempo é que era bom, pois só havia bons e maus e eles eram todos heróis, lutando contra o fascismo em exílios no estrangeiro, tirando cursos em Universidades suiças, alemãs, francesas e inglesas e conspirando em esplanadas de Paris ou Argel, enquanto cá o zé-povinho trabalhava, calava e se não calava levava nas trombas. Ou então eram heróis estudantis, universitários à conta das famílias que viviam do regime, mas que lutavam e deitaram abaixo a ditadura à custa de tanta palavra.
Por estas e por outras é que eu por vezes tenho destes acessos reaccionários. Basta ler, ver ou ouvir, estes antifascistas perpétuos, que se acham no direito da eterna razão, que fico logo cheio de urticária nos neurónios. Só não vou a correr inscrever-me no CDS, porque então tinha que ouvir o Paulinho, o Pires de Lima Jr. E outros “muchachos” a querer correr com os moldavos e ucranianos que andam a fazer os estádios do Euro.
É que não há nada como grande parte da nossa esquerda para até acharmos que a direita não é tão saudosista como parece.

Entendam-se meus irmãos...

E por falar em direitas e esquerdas. Esta semana, os Sampaios andaram cada um para o seu lado. Já parecem os Portas.
O Jorge foi à Turquia e panhou um acesso de verborreia, desatando a falar sobre tudo e mais alguma coisa e apelando a entendimentos de regime sobre questões fulcrais da governação (educação, saúde, justiça, etc). Já o Daniel escreveu que se devem acentuar as diferenças entre direita e esquerda e fugir do “centrão”.
Bem, eles têm o direito de não estar de acordo um com o outro. Tudo numa boa. Agora não sei é se eles, afinal, não estarão de acordo e tudo sejam duas visões aparentemente diferentes, mas afinal similares, do mundo. Assim como o Miguel e o Paulo. Nós pensamos que eles têm opiniões diferentes, mas afinal os dois são quase iguais.

BABE

Em conversa com um amigo surgiu-me a indeia da fundação do B.A.B.E, o Bloco Anti-Bloco de Esquerda. Se fizesse um manifesto ideológico assim para o confuso, esgrimindo contra o capitalismo e a globalização, dizendo que era a favor da diferença e de um novo paradigma político e social (tipo Boaventura Sousa Santos), com um nome destes para este novo Bloco ainda conseguia a adesão da maior parte das estruras do velho Bloco. É que eles por “babes” até se pelam.

sábado, setembro 13, 2003

Será desta ?

A investigação do Expresso sobre pedofilia e prostituição infantil e juvenil começa a tocar em pontas cada vez mais interessantes. Não sei se alguma vez poderá chegar mesmo ao que interessa mas para quem estiver atento começam a vislumbrar-se os contornos do polvo.
Não venham agora os responsáveis políticos das últimas décadas dizer que não sabem de nada, nem nunca ouviram dizer nada.
É pura e simplesmente incredível que alguém suba na hierarquia política (diplomática, académica, económica, artística) do nosso país sem ter participado ou sabido de muito do que se passava e passa por este submundo de Lisboa e não só. Se não participaram, viram, se não viram, souberam e ouviram falar mas, “como não tinham provas” (a desculpa é sempre esta), nada fizeram e pactuaram com a coisa; se nada sabiam só podem ser clones do Tino de Rans.
Todas as épocas são animadas, mas não era foi so na ditadura que existiram escândalos abafados. Neste aspecto, as diferenças não são assim tantas. Aliás, em democracia a sofisticação do “abafanço” e as cumplicidades geradas até têm de ser maiores, pois é muito mais fácil um encobrimento em ditadura.
E, em casos como estes, desconfiemos sempre de dois tipos de personagens: tanto os que fogem do assunto como o Diabo da cruz, negando todo e qualquer conhecimento, como os que aparecem a bater no peito e a gritar muito pelos direitos dos cidadãos. Pela discrição ou pelo alarido todos têm algo a esconder.
O problema é que são poucos os que não têm telhados de vidro e, portanto, poucos são os que sabem e estão dispostos a falar sem correrem o risco de se verem envolvidos, por acção ou omissão.
Porque, se viesse a público tudo o que tem a ver com diversas modalidades de prostituição encoberta na nossa sociedade (não tenho nada e, antes pelo contrário, sou totalmente a favor da legalização da prostituição como actividade profissional legal e reconhecida), poucas seriam as figuras da vida pública portuguesa dos últimos 25 anos que não apareceriam com maiores ou menores quantidades de lama em cima.

quinta-feira, setembro 11, 2003

Viva ???

O homenzinho do IEP demitiu-se e a demissão foi aceite. Por fim, a estupidez castigada.
Mas a alegria é breve porque nada nos garante que o dito senhor não venha a ser nomeado daqui por dias ou semanas para cargo equivalente, com mordomias equiparadas e perigos semelhantes para todos nós.
Quem nos garante que ele não vai para a CP, TAP, Gaz de Portugal ou outra empresa com participação pública onde possa espraiar toda a sua asnice ???

quarta-feira, setembro 10, 2003

Crianças, vinde a nós

Neste caso da Casa Pia, a “descoberta” do carácter industrial da produção de pedopornografia a partir de um núcleo de profissionais da RTP começa – por fim – a raspar a pontinha extrema do iceberg deste tipo de actividades no Portugal das últimas décadas do século XX.
Quando chegarem um bocadinho mais abaixo da superfície do fenómeno e, mesmo assim, longe do âmago da questão, logo falamos.
Os que estão presos, não passam quase todos de moscas distraídas que se aproximaram ocasionalmente do que não deviam.

Surrealizar, talvez

Ouvi há horas as conclusões do inquérito do IEP sobre a queda da passagem aérea no IC 19.
Como todos os inquéritos entre nós, as conclusões são hilárias e dignas de um Museu da Asnice Humana.
No fundo, concluiu-se que a passagem caiu porque a estrutura estava debilitada, mas só se poderia saber mesmo que a estrutura estava debilitada quando a ponte caísse.
Por outro lado, houve uma conjunção de circunstâncias que fizeram a passagem cair, mas não é possível saber qual foi a determinante, portanto não se pode saber quem foi(foram) o(s) responsável(eis).
Ou seja, sabem que caiu, porque caiu, mas não quem tem culpa. Isto foi dito numa conferência de imprensa a meia luz por um painel de técnicos, em que avultavam digníssimos engenheiros de currículo firmado.
Depois, a culpa é das pancadas que os camiões deram na estrutura e porque a estrura parecia um Lego e etc e tal. A culpa nunca poderia ser da estrutura estar sem os parafusos de suporte. Parece que os senhores não viram que aquilo caiu inteiro, quebrando junto aos postos e não pelo meio, onde os camiões bateram. Para além disso, lembro-me bem que as pontes de Lego da minha infância não caíam só por eu olhar para elas.
Está-se mesmo a ver porque é toda esta conversa.
Não havendo culpa definida atribuída, como castigar alguém ou a quem pedir indemnização pelos danos causados, se não existe uma relação objectiva de causalidade ?
Estes tipos são estúpidos, não têm um pingo de vergonha na cara, são incompetentes, mas parvos não são.
Infelizmente, os políticos que os tutelam são pouco diferentes e vivem do mesmo tipo de expedientes.
Por tudo isto, tudo ficará como está: os feridos no hospital, os carros esmagados, a passagem aérea no chão e estes senhores com bons empregos.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Ricardo Sá Fernandes, esse mártir das grandes causas

Levei meia hora a ouvir este senhor carpir mágoas na TVI contra os juízes e o estado da justiça em Portugal, não percebi se no geral ou particular.
Uma coisa há que reconhecer, este é um homem de fé.
Os raciocínios dão saltos no desenvolvimento da lógica mas de um feito quase inédito ele deve ser creditado: conseguiu fazer com que a Manuela Moura Guedes parecesse calma, lógica e razoável.
No fim, acabou por confessar que o sigilo profissional o impediria de dizer o que quer que fosse, caso tivesse sido enganado pelo seu constituinte.
Ou seja, admitiu que só podia dizer o que estava a dizer, tivesse razão ou não, soubesse isso ou não.
Ora bolas, que raio de linha de argumentação é esta ?

O Baía, esse ídolo

A polémica sobre o Vitor Baía é uma tristeza.
Sou parcial, porque há muito que não gosto do senhor e o acho um guarda-redes mediano, muito protegido pela imprensa nacional no início da carreira e só se destacando quando tem boas linhas defensivas a protegê-lo, só lhe sendo necessário fazer uma ou duas intervenções de grau de dificuldade acima da média por jogo.
Quanto ao seu amor pela selecção, vem de longe, desde os tempos em que simulou uma lesão para não jogar com a camisola nacional mas estar apto para jogar pelo Porto. Se bem se lembram, na geração “maravilhosa” dos campeões dos tempos do Queirós, quem estava na baliza eram o Brassard ou o Bizarro porque este senhor só obedecia à voz do dono, ou seja, do Pintinho da Costa.
Agora, não vale a pena puxar pelos pergaminhos.
E a memória não devia ser selectiva.

Triste classe profissional

Tenho o gosto de pertencer a uma das classes profissionais mais desgraçadas e tristonhas que existe à face da terra: a classe docente.
Como se não bastassem as malfeitorias de que somos alvo vindas de fora, do Estado, de grande parte da opinião pública, de muitos encarregados de educação e de número crecente de alunos, temos ainda de aturar as tristezas que crescem no nosso seio e que só degradam a nossa dignidade.
Entre estes atentados à inteligência humana, destaco duas subespécies: a dos galináceos cacarejantes e a dos dinossauros arraçados de hipopótamo.
Os primeiros, são os que protestam por tudo e por nada, com e, muito em especial, sem razão. Está sempre tudo mal e tudo é sempre uma injustiça. O caso mais recente passou-se com a alteração das regras de concurso que pouca gente leu e ainda menos percebeu. Na altura, poucos foram os protestos. Agora que aí estão as consequências – positivas ou negativas, não vem ao caso – é um ai-jesus. A coisa é assim: se perceberam as alterações ou concordaram (e então não deviam protestar) ou não concordaram (e, nesse caso, agora é tarde). Mais importante é que, se perceberam, mal ou bem, dá para perceber como as coisas correram: horários incompletos em escolas agradáveis podem ir para pessoas colocadas mais atrás no concurso porque os mais graduados vão para horários completos. Se não perceberam, então deviam ter percebido, porque têm um grau académico e deviam percebem o que lêem. Agora, ir gritar e descabelar-se para a porta do Ministério fica um bocadinho mal, em especial quando não se percebe do que se fala, como foi o caso de muitos docentes.
A segunda subespécie, está na ponta inversa da escala, mas também produz muitos efeitos nefastos. São aqueles que, dos dinossauros, têm a antiguidade e o cérebro diminuto, e dos hipopótamos, têm a bocarra e a imobilidade. Estão instalados nas Escolas, com a vidinha arranjada e acham que todos os outros são de segunda e as regras só podem ser torcidas em seu favor. Em geral, fazem pouco e falam muito, têem-se em muito boa consideração e tratam os colegas mais novos como se fossem de segunda classe, embora a lei lhes garanta os mesmos direitos. Esclerosaram e ninguém os informou. Felizmente, abocanham tanto que qualquer dia lhes falta o que comer e extinguem-se. Então só sobreviverão as subespécies mais pequenas, menos egoístas e mais solidárias.

terça-feira, setembro 02, 2003

Sonho de uma vida

Um dos meus mais antigos e inconfessáveis sonhos é o de ter o super-poder de, uma vez por dia, semana ou quinzena, fazer cair um balde de merdinha fresca sobre a cabeça de uma pessoa que me irrite particularmente devido à sua manifesta estupidez.
Este tipo de anseio ocorre-me quase sempre quando conduzo, nem sei bem porquê.
Ocasionalmente, surge-me no local de trabalho pois, sendo professor, contacto numa base diária com manifestações da mais pura estupidez humana (e não me estou a referir apenas, ou mesmo maioritariamente, ao corpo discente).
Cada vez mais, irrompe quando vejo aparições “públicas” de figuras ditas “públicas”.
A penúltima vez foi quando vi o Ministro da Defesa ajoelhado, mãos-postas em oração, na cerimónia de homenagem a Maggiolo Gouveia. A última foi quando o vi na Sic-Notícias a justificar ao jornalista Ricardo Costa o facto de assim ter sido fotografado.
A culpa, de acordo com esta luminária serôdia da nossa política, é de quem o fotografou devassando a sua atitude, a qual era ditada por convicções pessoais e íntimas.
Esquece-se esta criatura que a cerimónia ou era pública – e o fotógrafo tinha toda a legitimidade para fazer o que fez – ou era privada – e o fotógrafo nem poderia lá estar e isso ninguém ainda afirmou ou fez qualquer tenção de o processar por invadir um espaço privado sem autorização.
Esquece-se ainda que o que está em causa é o comportamento de um Ministro, teórica 2ª figura da governação, e não do registo desse comportamento.
E pensar eu que cheguei a comprar o Independente umas vezes no início dos anos 90.
E pensar eu que comprei a “K” desde o início.
E pensar eu que achava o jornalista Paulo Portas tinha ideias claras, lógicas e coerentes.
Eu era, realmente, uma grande besta.
Afinal, o balde de merda devia era cair em cima de mim.

Os CTT são os maiores

Confesso que um dos maiores ódios da minha existência foi o da invenção do “Correio Azul”, por isso tenho especial antipatia pelos CTT, enquanto instituição e, em particular, pelos seus órgãos de gestão. Excluo aqui, e claramente, a generalidade dos(as) carteiros(as) que tenho vindo a conhecer.
Na prática, aquela invenção traduziu-se no pagamento de uma taxa pela prestação do mesmo serviço que anteriormente – entrega da correspondência no dia seguinte no território nacional – só que agora com a chantagem de pagarmos ou não nos fazerem o serviço.
Se o país tivesse aumentado de dimensão – tipo, se tivéssemos reanexado Olivença - , se a população tivesse aumentado sensivelmente – não, não temos vindo a fazer assim muito mais bébés e os imigrantes que para cá vêm escrevem para Cabo Verde, Angola, Ucrânia ou Geórgia, onde não existe este tipo de esperteza – ou se os meios de comunicação tivessem regredido para o tempo da carroça, eu ainda percebia a a ideia. Pagaríamos adicionalmente por um serviço mais complicado de executar. Mas nada disso aconteceu e foi apenas uma forma saloia de aumentar receitas à custa de nós, estupidozinhos.
Mas enfim, não é isso que agora me interessa. O que interessa, é que a gestão dos CTT quer fechar dezenas ou mesmo centenas de dependências em nome da racionalidade económica, transferindo a sua função para outras instituições.
Raios partam esta raça de gestores sem vergonha.
Não serão os Correios um dos serviços de utilidade pública mais óbvia ?
Não será obrigação do estado alargar a rede para servir, e bem toda a gente, sem este tipo de critérios de mesquinha racionalidade ?
Será por viver numa freguesia com uma razoável área e já bastantes milhares de habitantes – mas sem um estação de correio, sendo necessário deslocar-me 5 a 6 km sempre que o carteiro não me pode trazer uma revista ou uma encomenda porque trraz o saco atafulhado de publicidade a grandes superfícies – que me sinto especialmente irritado ?
Não haverá um nível mínimo de decência a respeitar em tudo isto ?
Vamos voltar a comprar selos e a receber a correspondência na mercearia da esquina ? A mesma mercearia que está em vias de extinção, graças à grande superfície cuja publicidade o carteiro simpaticamente deposita na minha caixa de correio ?
Será isto o progresso ?

Santa Ignorância

O excelentíssimo académico da esquerda alternativa Miguel Vale de Almeida leu o livro do Martin Amis sobre o Estaline e, por fim, viu a luz.
Descobriu, por fim, que o estalinismo era mau e os crimes soviéticos equivalentes aos de outras ditaduras.
Aleluia a todos os deuses nas alturas.
Esta alma penada tinha vivido até agora no obscurantismo e só graças a uma leitura, quiçá ocasional, descobriu ao fim de umas décadas de vida aquilo que, mesmo para os apoiantes do regime estalinista, nunca foi propriamente desconhecido.
Diz a criatura que agora vai discutir com os colegas de Partido – seria melhor dizer do Bloco, porque o “bloco” une e o partido “parte” – estas questões pertinentes.
Para lá de ir com uns bons anos de atraso discutir estas coisas, não sei se terá grandes vantagens em conversar sobre isto com os colegas bloquistas, qual deles o mais empedernido ideologicamente.
O excelentíssimo professor Fernando Rosas pode sempre dizer que passou de estalinista a maoísta ainda nos anos 60 e que, como sabemos, a China de Mao era uma ditadura benigna que nunca fez mal a ninguém. O camarada Louçã, líder de todas as contestações vividas e por viver, dirá que é trotskista e que o que de bom tem o trotskismo – seja isto lá o que for, porque nunca percebi o que era – é que nunca foi experimentado e, portanto, não tem defeitos que lhe possam ser apontados. O sempre rebelde Portas – o Miguel, é claro – dirá que não sabe muito bem a que “ismo” ainda pertence e que, por isso mesmo, não é nada com ele e que o que um gajo quer é passar despercebido agora que o maninho mais novo só faz é caquinha.
Por isso, camarada Miguel, faça antes de conta que não leu nada e deixe tudo como está poorque, ou passa por estúpido – e mesmo que o seja, não o quererá assim reconhecido em praça pública – ou então ainda acaba à porta do Bloco, sem saber o que lhe aconteceu, com um belo pontapé naquele sítio a que costuma dar outro tipo de utilização.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?