segunda-feira, julho 26, 2004

Paradoxos e interesses

No modelo europeu ocidental do Estado-Providência, todos devem participar com a sua quota-parte para o esforço do Estado em assegurar as suas funções.
Em termos ideais, o modelo redistributivo baseia-se em que os indvíduos, empresas, etc, com mais meios contribuam mais, para assegurar que os que têm menos recebam a ajuda de que necessitam.
Em Portugal existe um modelo alternativo; os que têm pouco contribuem todos para que a redistribuição se faça para os que têm mais, sejam os que fazem grandes negócios com o Estado, sejam aquelas empresas que nunca dão lucros, mas funcioname anos a fio, permitindo visível prosperidade aos seus proprietários.
Porque se passa isto assim ?
Porque após os curtos anos revolucionários em que o chamado «grande capital» foi afastado, se seguiu um longo processo em que aqueles que se opuseram (vitoriosamente) contra a tomada do poder pelas facções marxistas estatizantes se dedicaram a um longo namoro no sentido de fazerem esse grande capital regressar.
Nos últimos 20 anos, mais coisa menos coisa, interesse políticos e económicos emaranharam-se de tal forma que é difícil desmanchar o nó. Os políticos dos partidos à direita do PC entretiveram-se a tentar atrair para seu proveito os dinheiros dos interesses económicos privados sob a promessa de, conquistado o poder, retribuirem com vantagens concorrenciais ou, mais prosaicamente, com o dinheiro do Estado.
A formação dos imberbes grupos económicos nacionais actuais passou quase sempre por este processo.
Os interesses económicos apostam em determinados grupos ou indivíduos para conquistarem o poder político (principalmente nos partidos centrais da nossa democracia, PS e PSD) e depois, quando ele é conquistado rotativamente, a retribuição fica na ordem do dia. O equilíbrio só é ameaçado quando uma determinada facção exagera no desmando ou no tempo em que controla o poder (foi o caso da década cavaquista).
Por isso, Portugal é dificilmente governável, seja a nível nacional ou local.
O problema não está necessariamente nos portugueses, em geral, por serem preguiçosos, pouco produtivos, pouco empenhado numa ética do trabalho ou com má formação (profissional, cultural, etc). Embora isso seja parte do problema, não é todo, ou mesmo o essencial, do problema.
O pior deve-se à ganância das elites que se consideram no direito de dominar o aparato estatal em seu proveito e no daqueles que os conduziram ao poder, via financiamentos chorudos para campanhas eleitorais e outros mimos.
Claro que é isso que impede uma reforma do sistema político a começar pelo financiamento dos partidos e pelos limites de despesas das campanhas.
Em nome da liberdade, movem-se interesses que, a existirem esses limites, perderiam margem de manobra.
Claro que, em primeiroa e última instância, os maiores culpados são os políticos que em vez de dedicação à coisa pública se movem por interesses privados, pessoais, em que o exercício do poder político apenas funciona como meio para atingir objectivos mais elevados.
Um exemplo paradigmático desta atitude, deste estar e depois não estar, estando, na política, é o de Dias Loureiro, bem respaldado nos dividendos da sua actividade privada, conseguida graças aos 10 anos de estadia no poder político, que agora se esquiva ao exercício de cargos executivos mas que não foge a manobrar nos bastidores aqueles que, a seu mando e graças à sua influência, são colocados em postos-chave da governação.
Ao contrário do que dizem alguns, mesmo que com boas intenções, os cargos políticos não são mal remunerados pois essa remuneração, desde a sua criação na Atenas do século V a. C., se destinava apenas a compensar minimamente quem servia o interesse público e não tinha outros meios de subsistência e não a compensar eventuais perdas de rendimentos mais elevados.
Não percebo que um ministro se sinta mal ao ganhar menos do que um gestor de uma empresa, pois a sua posição e autoridade não deve residir na sua capacidade económica mas na dignidade da sua função e da sua acção. E o problema está aí, muitas vezes o exercício das funções públicas é feito de forma indigna por aqueles quie as encaram como mero trampolim no seu currículo, como etapa necessária para conhecer os meandros do aparelho estatal que permitirá, mais tarde, colher dividendos.
O percurso tipo deste género (menoríssimo) de político é o seguinte: até aos vintes dar nas vistas nas jotas, gritando até chegar a ser alguém numa Associação de Estudantes, escrevendo artigos inflamados na imprensa partidária ou local e exercendo cargos locais/regionais de relevo discutível; até aos trintas conseguir um posto de chefia intermédia na estrutura partidária nacional, ascendendo a deputado, assessor ou (sub)secretário de Estado nos casos mais afortunados; aos quarentas chegar a administrador de empresa com participação no Estado ou ministro e, no fim dos quarenta, estar já em posição de viver dos rendimentos, depois de ser chamado para cargo bem pago num grupo económico privado, acidentalmente bafejado pela sorte na sequência da sua acção política.
Assim se constrói uma figura política respeitável de sucesso.
O passo seguinte é passar a ser comentador residente na SIC-Notícias ou no noticiário da noite de um dos canais generalistas, ganhando o estatuto de reserva moral da Nação.
Assim se (nunca) constrói um Portugal de sucesso.


quarta-feira, julho 21, 2004

Promessas leva-as o vento

Afinal o governo tem mais 2 ministros e 2 secretários de Estado do que o anterior. O Pedrocas lá tentou explicar de forma muito entaramelada a lógica da coisa, mas sem o conseguir. Eu até tinha alguma esperança mórbida no rapaz, mas a coisa está a começar muito mal.
Hoje à noite na Sic-Notícias o Luís Delgado fez uma analogia com o Presidente Clinton, afirmando que também ele começou mal mas acabou por ser um bom Presidente.
Ficamos à espera de saber quem será a Mónica Lewinski do nosso novo Primeiro.
Qual será a santanete que se chega à frente e se ajoelha em oração ?
A Cinha já está um bocado esticada para esforçar os joelhos.

Afinal sempre há más notícias

Corrije-se aqui o comentário em que se afirmava serem boas notícias o Paulinho Portas ter ficado com o mesmo Ministério de antes, porque assim não precisava de mais assessores. Afinal o Ministério, para além da Defesa, tem os Assuntos do Mar e abre-se aqui todo um novo oceano de possibilidades para contratações milionárias de jovens assessores garbosos, voluntariosos e desejosos de agradar ao chefe em todas as áreas do saber, mesmo se para isso tiverem de dar o corpo ao manifesto, digo, ao trabalho.
Também o Luisinho no Ambiente tem todo um vasto leque de necessidades pois do assunto não percebe puto, pelo que lá se alinham candidatos a assessores. E nada como umas idas ao ar livre para aprofundar conhecimentos sobre a Natureza.
Quanto ao Telmito, embora mais discreto e comedido, deverá ter menos necessidade de assessores pois de Turismo já ele deve saber, pois é o que irá fazer para o dito Ministério.
No meio de tudo isto só tenho pena da insinuante Teresa Caeiro que da Segurança Social passou para as Artes e Espectáculos, após frustrada promessa de ir para a secretaria da Defesa e outros assuntos ligados aos ex-combatentes. As críticas não são merecidas, pois ela tem dois trunfos na área da Cultura em geral e das Artes e Espectáculos, em particular:
a)      Conseguiu bater a Alexandra Lencastre no leito do Piet-Hein, o que, apesar do desgaste do casamento, é proeza visto a Alexandra estar toda recauchutadinha e biónica depois das plásticas, silicones e afins.
b)      Manteve, ou mantém, uma relação com o dito Piet-Hein, o qual fez mais pela nossa cultura numa década, via Endemol, quase tanto (ou mesmo mais) do que a Fundação Gulbenkian em meio século

sábado, julho 17, 2004

Boas e más notícias

As boas notícias é que o Paulinho fica na Defesa e não vai precisar (em princípio) de nomear mais assessores a milhares por mês.
As más notícias é que chegou o Luisinho que, como não percebe pevas do assunto que vai tratar, vai certamente precisar de paletes de assessores (pagos a milhares por mês).

No qu'é que ficamos

E agora ?
Qual será a função da Cinha ?
Continuará a ir de braço dado com o Paulinho ao estrangeiro, quando ele precisar de par para parecer respeitável, ou voltará para o Pedrinho, para ter mais espaço na imprensa nacional ?

O mundo tá perdido

Quando alguém como o Nuno Morais Sarmento faz rábulas sobre a participação no governo e lhe é dada importância, algo anda mal neste pobre país.
Se já descemos assim tanto, é porque o tacho já está roto e já nem estamnos no fundo, estamos mesmo com o rabinho no lume a arder.

terça-feira, julho 06, 2004

Entrevista a Rui Santos - comentarista desportivo

Entrevistador: Então Rui Santos, o que acha do Euro, em tyermos de balanço final ?
Rui Santos: Como eu já digo há 25 anos, o futebol português vive acima das suas p+ossibilidades e estes eventos não resolvem os seus problemas profundos. Saliento que escrevo isto há 25 anos.
Entrev.: E o que achadas tácticas de Scolari ?
RS: Como eu já escrevi, nas últimas duas décadas e meia, o problema do futebol português não passa pelo seleccionador. Está na estrutura que é não é profissional. Já digo isto há 25 anos.
Entrev.: E em relação ao Mundial de 2006, quais são as suas perspectivas ?
RS: Há 25 anos que digo que os apuramentos não solucionam os problemas do futebol profissional em Portugal. Sou daqueles que declaro há mais de 20 anos que os problemas são outros e que nunca foram ainda resolvidos.
Entrev.: Pois... E já agora o que acha do tempo, está um bocado ventoso hoje.
RS: Pois é, e há 25 anos que escrevo sobre isso, pois o tempo também não é o responsável pela situação a que chegámos. E fui dos primeiros a diz~e-lo publicamente.
Entrev.: Então boa noite e até à próxima.
RS: Já digo desde o início dos anos 80 que esta questão das despedidas também não é o mais importante. O futebol português não está assim por causa disso. E fui dos primeiros a afirmá-lo. Há cerca de 25 anos.
Entrev.: Então um grande cócó para si e para o raio do gel que usa.
RS.: Olheque há 25 anos que falo sobre isso e escrevo e declaro e afirmo que o futebol português anda mal e não é só por causa do cócó que meto no meu cabelo.
Entrev.: Lá isso é verdade.
RS: Há 25 anos que o digo.

Sem travões...

Confesso que sinto um mórbido prazer em ser governado por um executivo dirigido pela dupla Santana/Portas.
É como ver um carro desgovernado, sem travões, numa descida, com um muro no fim da estrada.
Sabemos que vai acabar em desastre, mas há sempre a tentação de espreitar para ver até que ponto chegam os danos.
Mea culpa, mea maxima culpa...

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