sexta-feira, setembro 05, 2003

Triste classe profissional

Tenho o gosto de pertencer a uma das classes profissionais mais desgraçadas e tristonhas que existe à face da terra: a classe docente.
Como se não bastassem as malfeitorias de que somos alvo vindas de fora, do Estado, de grande parte da opinião pública, de muitos encarregados de educação e de número crecente de alunos, temos ainda de aturar as tristezas que crescem no nosso seio e que só degradam a nossa dignidade.
Entre estes atentados à inteligência humana, destaco duas subespécies: a dos galináceos cacarejantes e a dos dinossauros arraçados de hipopótamo.
Os primeiros, são os que protestam por tudo e por nada, com e, muito em especial, sem razão. Está sempre tudo mal e tudo é sempre uma injustiça. O caso mais recente passou-se com a alteração das regras de concurso que pouca gente leu e ainda menos percebeu. Na altura, poucos foram os protestos. Agora que aí estão as consequências – positivas ou negativas, não vem ao caso – é um ai-jesus. A coisa é assim: se perceberam as alterações ou concordaram (e então não deviam protestar) ou não concordaram (e, nesse caso, agora é tarde). Mais importante é que, se perceberam, mal ou bem, dá para perceber como as coisas correram: horários incompletos em escolas agradáveis podem ir para pessoas colocadas mais atrás no concurso porque os mais graduados vão para horários completos. Se não perceberam, então deviam ter percebido, porque têm um grau académico e deviam percebem o que lêem. Agora, ir gritar e descabelar-se para a porta do Ministério fica um bocadinho mal, em especial quando não se percebe do que se fala, como foi o caso de muitos docentes.
A segunda subespécie, está na ponta inversa da escala, mas também produz muitos efeitos nefastos. São aqueles que, dos dinossauros, têm a antiguidade e o cérebro diminuto, e dos hipopótamos, têm a bocarra e a imobilidade. Estão instalados nas Escolas, com a vidinha arranjada e acham que todos os outros são de segunda e as regras só podem ser torcidas em seu favor. Em geral, fazem pouco e falam muito, têem-se em muito boa consideração e tratam os colegas mais novos como se fossem de segunda classe, embora a lei lhes garanta os mesmos direitos. Esclerosaram e ninguém os informou. Felizmente, abocanham tanto que qualquer dia lhes falta o que comer e extinguem-se. Então só sobreviverão as subespécies mais pequenas, menos egoístas e mais solidárias.





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