segunda-feira, setembro 13, 2004

O poder somos NÓS

A Visão da passada 5ª feira traz um artigo sobre os líderes do Bloco de Esquerda.
As almas caridosas que já leram textos antigos deste blog já sabem da minha profunda aversão a esta força política, aversão essa que se deve exactamente a algumas das criaturas que surgem em alinhamento fotográfico na dita peça, nomeadamente os excelentíssimos senhores doutores Fernando Rosas e Francisco Louçã, com o Miguelito portas a conseguir quase apanhá-los. Ao fazenda da ex-UDP, não sei bem porquê (sei, mas...), dou-lhe o benefício da dúvida, pois não me provoca uma urticária imediata só de vê-lo.
Porquê tanta aversão ?
Por quatro razões:
1) Porque conheci durante anos o Fernando Rosas e as suas teorias narcísicas sobre a sua importância no combate ao salazarismo (fácismo ou fáxismo para ele, conforme ou dias e o ardor argumentativo), bem como a sua incoerência argumentativa, a roçar a desonestidade intelectual, no plano político.
2) Porque considero que, mesmo que não em todos os níveis porque há limites para tudo, os princípios políticos devem corresponder a princípios de vida dos seus proponentes e que, portanto, quem traz as “massas populares” e o “povo” sempre na boca devia, na sua vida, demonstrar na prática essa preocupação e não se comportar como qualquer burguês empedernido (o que todos eles, excepção ao L. Fazenda, foram, são e sempre serão). Quando se explora o próximo na nossa prática profissional, quando se colabora em situações de negócios menos transparentes, devia ser difícil vir depois apontar o dedo aos outros por questões do mesmo tipo. Mas como de vergonha nem todos temos o mesmo quinhão...
3) Porque acho que essa defesa das massas não se faz apenas quando estão por perto ou está assegurada a apresença de repórteres e câmaras televisivas. Sei que cada vez mais vivemos numa sociedade/democracia mediática em que o peso dos meios de comunicação social é decisivo e tem um efeito multiplicador no impacto dos acontecimento mas isso não é razão para se estar lá apenas quando o retrato está garantido.
4) E, por fim, porque não consigo encontrar qualquer coerência ideológica ou uma linha orientadora na ação política do Bloco que não se resuma ao desejo de chegar ao poder, o mais depressa possível. No caso da colagem ao PS de Ferro Rodrigues – que levou os bloquistas a defender com maior veemência os “chamuscados” da direcção do PS no caso da Casa Pia que os próprios camaradas rosinhas – foi por demais evidente o desejo de preservar viva a ligação mais viável de alcançarem o poder atravé de uma aliança PS/BE, queimando o PC pelo caminho e lançando ás urtigas qualquer tipo de credibilidade política.

Por tudo isto, e muito mais (muito mais...), fiquei agoniado com os Três Mosqueteiros do BE (sei que são quatro, mas o Fazenda faz aqui de D’Artagnan de segunda, pois só lá está para assegurar os votos da UDP) ou, numa visão mais negra, como os Quatro Cavaleiros do Apocalipse.
Sempre me considerei de esquerda, mas nunca desta esquerda interesseira, intelectualmente desonesta, nepótica, prepotente na disciplina interna (daqui a 50 anos, se estiverem vivos, serão estes ainda os líderes do Bloco), intimamente burguesa até à medula e profundamente fascinada pelo PODER.





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