terça-feira, abril 27, 2004

Há bombas e bombas

O CDS/PP não quis aparecer numa cerimónia em que o Presidente da República condecorou, entre outras personalidades, a Drª Isabel do Carmo, ex-brigadista revolucionária.
A atitude é legitima pois ninguém deve aparecer onde não deseja, nem a isso deve ser obrigado.
O problema são as justificações.
Os argumentos esgrimidos pelo Pires de Lima Jr. são dos mais hipócrita com que ele já nos bridou e, confessemo-lo, o tipo já tem uma longa lista de argumentações delirantes.
Como Isabel do carmo foi uma bombista em meados dos anos 7o não merece a ordem da liberdade e, para além disso, as condecorações destas datas vão quase sempre parar a quadrantes “de esquerda”.
Comecemos pelo fim e pelo mais óbvio. As condecorações calham a pessoal “de esquerda” porque a generalidade dos outros, “de direita”, fizeram muito pouco pelo 25 de Abril. Revisões da História a posteriori não ficam muito bem agora, nem pelo pessoal do CDS, nem pelos do Bloco de Esquerda, pois as duas faces dos Portas são muito similares no olhar enviesado sobre os factos.
Quanto ao caso particular da Isabel do Carmos, só apresentaria duas reflexões:
a) Em primeiro lugar, no imediato pós 25 de Abril de 74, houve bombas de diversas cores. Suponho que as “vermelhas” não são as únicas más. As que tinham tonalidades mais azul-amareladas ou mesmo alaranjadas não eram melhores e os ataques a sedes de partidos de esquerda no Centro e Norte do país eram tão anti-democráticas como os assaltos a bancos e as ocupações a Sul. Aliás, é tão fácil identificar os bombistas de 75 à direita como à esquerda, se não mesmo mais fácil.
b) Em segundo, criaturas que se arrogam dos valores cristãos parecem esquecer que as pessoas podem regenerar-se e abandonar fés antigas para abraçar novas. Porque será que a Isabel do Carmo de 2004 não poderá ser diferente da de 74 ? Não poderá ela ter abjurado o “bombismo” e ter-se convertido à democracia burguesa e ser premiada por essa mesma conversão ? Se o argumento fosse que ela, agora, ainda era anti-democrata e professava fé totalitária, ainda percebia o argumento, mas o jovem Pires de Lima não chegou a tanto. Continuar a condenar a senhora por crimes de há 30 anos seria o mesmo que considera o Durão Barroso inelegível para 1º ministro devido aos disparates que disse e fez nesse mesmo período. Ou será que o jovem Durão também não foi forte defensor de um regime totalitário como a China maoísta da Revolução Cultural ?
Pois é, pois é, a hipocrisia vale o que vale e a memória só chega onde convém.





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