sábado, julho 26, 2003

Em toda a discussão em torno do caso da "Casa Pia" e do eventual envolvimento de figuras públicas (leia-se políticos), com as escutas a Ferro Rodrigues a terem papel de relevo, a atenção tem estado quase exclusivamente virada para as questões de ordem jurídica e política.
Ora, sendo estas questões muito importantes, tem sido progressivamente obscurecido um aspecto decisivo para o incómodo de toda a gente e que é o da natureza do "crime" em causa ser de ordem sexual.
Para abreviar, penso que esta atitude resulta do grande desconforto que as nossas elites políticas, herdeiras da geração de 60 em especial do lado da Esquerda, falam publicamente deste tipo de assuntos.
Já sabemos que cresceram em ditadura e em tempos de frustração sexual, mas começa a ser demasiado patológica a clivagem entre o discurso privado, todo eivado de serôdio "marialvismo" e macjismo, e a atitude pública de teórica tolerância para com os comportamentos sexuais, no plano teórico da defesa dos Direitos Humanos - e aqui a liderança do Bloco de Esquerda é a mais hipócrita de todas.
Quanto se trata de situações concretas e quando, me que de raspão, lhes toca qualquer insinuação, ficam logo todos muito encrespados. É uma pena que ainda não tenham ultrapassado os traumas da juventude, para além dos "affairs" mantidos de forma ostensiva para os seus pares mas ocultados para o público.
É como se a doutrina-Portas para o jornalismo - só lhe interessavam as questões de mau uso da coisa pública, mas não queria saber dos comportamentos privados (vá-se lá saber porquê...) - vencesse em toda a linha, como estratégia tácitamente aceite por todos mpara encobrimento mútuo.
Estejam, ou não, políticos envolvidos no escândalo da Casa Pia - por acção ou omissão - a verdade é que muita gente sente o rabo (salvo seja) a arder, porque sabe que os seus telhados não são de vidro.
E, para mim, é sempre relevante podermos avaliar o comportamento dos políticos enquanto cidadãos pois, só assim, poderemos verdadeiramente avaliar o seu carácter e a sua adequação aos cargos que pretendem desempenhar.
Que me interessa um mau gestor, que leve fraudulentamente empresas à falência e fique com os subsídios, para cargos na estrutura económica ou financeira ?
Que me interessa uma pessoa privadamente intolerante e abusiva para campeão dos Direitos Humanos ?
Que me interessam virtudes públicas, se a elas não corresponde um pomportamento privado correspondente ?






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